quarta-feira, 23 de junho de 2010

CONHECIMENTO CIENTÍFICO E APLICADO



A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO¹
Noeme Brito, Juliana Almeida e Edilson²

RESUMO: Este trabalho aborda alguns conceitos de ciência, e as primeiras manifestações do conhecimento científico, que ao longo do tempo vem alcançando seu espaço. Apresenta também as ciências sociais aplicadas, um ramo da ciência que se vê interligado pela sociedade que o envolve. Expõe o estudo das ciências da administração, que surgiram para dirigir de forma ordenada as organizações. E por fim, cita críticas às novas formas de ciência.


PALAVRAS-CHAVE: Administração. Ciência. Ciências Sociais Aplicadas. Críticas.


O que é ciência?

“A questão o que é ciência? é a única que ainda não tem nenhuma resposta científica”. (MORIM, 2003, p. 21). Freire-Maia (1997, p. 24) busca uma definição, dizendo que “ciência é um conjunto de descrições, interpretações, teorias, leis, modelos, etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em contínua ampliação e renovação, que resulta da aplicação deliberada de uma metodologia [...]”.

Delimitar ou definir os fatos a investigar, separando-os de outros semelhantes ou diferentes; estabelecer os procedimentos metodológicos para observação, experimentação e verificação dos fatos; construir instrumentos técnicos e condições de laboratório específicas para a pesquisa; elaborar um conjunto sistemático de conceitos que formem a teoria geral dos fenômenos estudados, que controlem e guiem o andamento da pesquisa, além de ampliá-la com novas investigações, e permitam a previsão de fatos novos a partir dos já conhecidos: esses são os pré- requisitos para a constituição de uma ciência e as exigências da própria ciência. (FREIRE-MAIA, 1991, p. 251).

De acordo Chalmers (1993, p. 23), conhecimento científico é conhecimento provado. Para ele, “as teorias científicas são derivadas de maneira rigorosa da obtenção dos dados da experiência adquiridos por observação e experimento. [...] O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente.”

Santos (1999, p. 49) faz uma crítica à ciência moderna, afirmando que “[...] a ciência pós-moderna não segue um estilo unidimensional, facilmente identificável; o seu estilo é uma configuração de estilos construída segundo o critério e a imaginação pessoal do cientista [...].”

Assim, ciência é intrínseca, histórica, sociológica e eticamente, complexa. É essa complexidade específica que é preciso reconhecer. A ciência tem necessidade não apenas de um pensamento apto a considerar a complexidade do real das questões que ela levanta para a humanidade [...]. (MORIN, 2003, p. 9).

Segundo Bock et al (1999), “a ciência é uma atividade reflexiva, que procura compreender, elucidar e alterar o cotidiano a partir de um estudo sistemático e não simplesmente da adaptação à realidade. Quando fazemos ciência, afastamo-nos da realidade para compreendê-la melhor [...]”. Acompanhado este mesmo pensamento, Aranha (1994, p. 130), assente que “por mais que a ciência amplie o conhecimento que temos do mundo, de certo ponto de vista, ela reduz esse conhecimento, pois o cientista remove toda experiência individual que caracterizaria o ‘estar-no-mundo’.”
A neutralidade da ciência ainda é muito discutida, Chauí (1995, p. 281) chega a dizer que a neutralidade científica é uma ilusão, afirmando que, “quando o cientista escolhe uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas [...]”.
Freire-Maia (1997, p. 31) corrobora quando diz que “a ciência não flutua no vácuo. Não há cientista que seja só cientista; ele é também cidadão de uma cultura, político, filósofo, etc., mesmo que não tenha consciência disso [...].” A ciência influi e é influenciada pelos fatores que compõe a cultura em que está inserida.

Uma breve história da ciência


Apesar de ser recente a palavra cientista (século XIX), os métodos científicos são utilizados desde meados da Idade Média. Contudo, “a ciência moderna nasce ao determinar um objeto específico de investigação e ao criar um método pelo qual se fará o controle desse conhecimento”. (ARANHA, 1994, p. 129).
Freire-Maia (1997, p. 102) diz que a ciência progride de duas formas: evolução e revolução. “Por evolução (quando o progresso ocorre ao longo das grandes pistas que cada cientista usa para o seu trabalho de cada dia) e por revolução (quando surgem novas pistas capazes de oferecer outras visões da realidade [...]”.
Chalmers (1993, p. 134), baseado no ponto de vista de Kuhn, fala da importância das ciências normais e das revolucionárias, pois se só existisse a ciência normal (não-crítica) uma ciência específica ficaria presa em um único paradigma e nunca progrediria para além dele. Por outro lado, se somente existisse a ciência revolucionária, trabalho algum seria feito em profundidade.
A história da ciência no Brasil pode ser subdividida em vários períodos:

Vários acontecimentos podem se candidatar à posição de marcos entre períodos da história da ciência brasileira: a abertura dos nossos portos ao comércio com as ‘nações amigas’ (1808), a Independência (1822), a República (1889), a Revolução de Trinta, a criação da USP (1934). [...] etc.” (FREIRE-MAIA, 1997, p. 194).


Granger (1994) afirma que os progressos de cada ciência se realizam por invenções e renovações, mas precisa dos conhecimentos anteriores acumulados. Por isso, é importante e necessário o estudo da história da ciência para compreender e interpretar o sentido e o alcance das descobertas atuais.

Conhecimento científico, verdade incontestável?


Em meio a diversas formas de conhecer, a ciência é formada por conhecimentos racionais, programados, sistemáticos e controlados, para que se permita a veracidade das informações. É composta, de acordo Bock et al (1999), de “objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumulativo do conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum”.
Chauí (1995, p. 250) diz que “os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa experiência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho da investigação científica”. Utiliza-se de métodos quantitativos para a conclusão de suas pesquisas.
O senso comum, por sua vez, ao contrário da ciência, não necessita de métodos para explicar os fenômenos. “[...] O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas [...]”. (SANTOS, 1989, p. 40).
Freire-Maia (1997, p. 21) afirma serem incompatíveis ciência e senso comum:

A ciência não é o senso comum aprofundado, refinado ou ‘educado’. [...] se as coisas fossem como parecem ser, não seria preciso a ciência tirar, do que está escondido, a interpretação correta dos fatos. O conhecimento vulgar não gera o conhecimento científico. O cientista pode, através do primeiro, descobrir algo a pesquisar e, aí sim, fazer ciência [...].

Santos (1999) se contrapõe a essa assertiva, dizendo que na ciência pós-moderna, só é racional a forma de conhecimento que dá espaço a todas as outras formas de conhecer. E, para ele, o conhecimento mais importante que deve estar penetrado na ciência é o senso comum, por reconhecer nesta forma de conhecimento algumas virtualidades para enriquecer a nossa relação com o mundo.
A fé, por sua vez, é uma forma de conhecimento tão comum, que, pela falta de explicações concretas, não é mais predominante como na Alta Idade Média. Há, portanto, um grande conflito entre fé e ciência, assim como afirma Petry (2007, p. 80):

“como a ciência é motivada pela dúvida e pela razão, enquanto o motor da fé são a crença e o espírito, os cientistas costumam ser os mais descrentes. Pesquisas indicam que 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos não aceitam a idéia de um Deus [...].”

Apesar disso, existe quem acredita na possibilidade de unir fé e ciência. Um exemplo está em um famoso biólogo americano Francis Collins, autor do mapeamento do DNA humano:

[...] E como pesquisadores, também podemos descobrir, por meio da ciência, muitas respostas interessantes para a pergunta: ‘como a vida funciona?’. O que não podemos descobrir, apenas por meio da ciência, são respostas às perguntas: ‘por que existe a vida, afinal?’ e ‘por que estou aqui?’. (COLLINS, 2007, p. 94).

Freire-Maia (1997) contribui, quando diz que a ciência não abarca tudo, mas apenas uma fração do que existe. E, por isso, não se pode invocar a ciência para opinar sobre temas que se encontre fora de seu âmbito. A ciência aborda uma área extremamente limitada que não se supõe à área total da matéria, da vida, do pensamento, dos sentimentos, do comportamento humano.

A ciência moderna mostrou que é possível dispensar o primitivo conceito de um Deus que age sobre a natureza como um deus ex-machina. Esse fato, no entanto, não faz da ciência um substituto da religião e nem elimina Deus da problemática humana. [...] Ciência e religião, apesar de terem, em suas periferias, algumas áreas imbricantes, atuam em planos diversos: a primeira deve descrever e interpretar certos fatos do mundo, enquanto à segunda cabe dar sentido à vida em função de sua dimensão transcendente. [...] A religião não é competente para analisar os aspectos científicos dos fatos do mundo. Por isso, uma religião não deve tomar posição nem a favor de teses cientificamente corroboradas e muito menos adotar pontos de vista anticientíficos. Cabe-lhe apenas abordar os aspectos religiosos desses fatos [...]. (FREIRE-MAIA, 1997, p. 172-173).

Petry (2007, p. 80) recorda que a ciência e fé não foram inimigas escancaradas desde sempre, porque a fé, por séculos, foi mais forte, mais influente e mais poderosa que a ciência. O choque entre elas se deu no desenrolar da história.

[...] O Brasil figura entre os países mais crédulos do mundo- e isso abre um paradoxo. São cada vez mais abundantes as descobertas científicas sobre a origem do universo e das espécies. Se a credulidade não se abala diante disso, é lícito questionar que talvez nenhuma prova científica, por mais sólida e contundente, seja capaz de reduzir a pó o teísmo, a crença no divino. [...] Um dia, o homem saberá ler com precisão os 3 bilhões de letras do DNA humano, nossa carteira de identidade. Certamente, esse conhecimento científico fará com que seja possível evitar um câncer, uma disfunção renal, a tendência à depressão ou a fragilidade dos ossos do tórax. Mas, ainda assim, com toda essa pujança, esse conhecimento imenso, não saberemos como fazer um homem bom ou mau, triste ou feliz [...]. (PETRY, 2007, p. 74-82).

Apesar da evolução do conhecimento, não se pode considerar o estudo da ciência como uma verdade absoluta, visto que a própria ciência se contradiz, de acordo diversos autores, em diversos tempos. “Não é raro que cientistas formulem idéias diferentes diante dos mesmos dados não como realmente são, mas como cada teoria diz que deve ser. [...] Não existe o que poderia chamar de ‘conhecimento absoluto da realidade’ [...]”. (FREIRE-MAIA, 1997, p. 30-78).

A experiência que um observador tem ao ver um objeto depende muito de suas experiências passadas, de seu conhecimento e expectativas. “Esse conhecimento não nos vem dos dados (se assim fosse, seria fácil a tarefa dos cientistas), mas das mentes que os observam [...].” (FREIRE-MAIA, 1997, p. 78).
Sabe-se que todo conhecimento tem a sua importância, em menor ou maior grau, em diferentes tempos e lugares. “Que garantia temos de que sejam verdadeiras as teorias que hoje defendemos com tanto ardor, delas fazendo alicerces até mesmo para elucubrações filosóficas e posicionamentos contra o que transcende a nossa metodologia? [...].” (FREIRE-MAIA, 1997, p. 80).
Freire-Maia (1997, p. 122-172) assente dizendo que “os cientistas fazem sérias restrições ao conceito de verdade (em ciência). [...] O conceito de verdade não é científico, mas filosófico. [...] A verdade científica é, pois, algo que não pode permanecer estático, terminado e definitivo [...]”.
Isso se explica pela exigência das teorias, em serem altamente falsificáveis (possibilidade de serem testadas pela observação ou pelo experimento). Assim como afirma Popper (apud MORIN, 2003, p. 59):

A história das ciências, como a de todas as idéias humanas, é uma história de sonhos irresponsáveis, de teimosias e de erros. Porém, a ciência é uma das raras atividades humanas, talvez a única, na qual os erros são sistematicamente assinalados e, com o tempo, constantemente corrigidos.

Por isso, Morin (2003) diz que pode surgir a pergunta: como a ciência pode ser mais mutável que a teologia? Mas isso se explica porque a teologia é baseada no inverificável, tendo grande estabilidade e a ciência, por sua vez, faz surgir, incessantemente, dados novos, tornando obsoleta a teoria estabelecida.


Por dentro da ciência

Conforme Aranha (1994, p. 129), as ciências, apesar de também serem consideradas gerais, no sentido de que busca estudar os elementos semelhantes, não viabilizando apenas os casos observados, são, principalmente, particulares, pois cada uma privilegia setores distintos da realidade.
Ao mesmo tempo em que a ciência se desenvolve, ela se fragmenta. Cada uma lida com um objeto de estudo específico:

[...] quando se fala em ciência, deve se especificar imediatamente de que ramo da ciência se trata. [...] Cada um desses ramos, cada um dos domínios do que se convencionou chamar ciência - ou técnica - corresponde a considerações sobre condições de formações, de tradições, de ambiente, de desenvolvimento, de natureza muito diferentes. (MARIA; GOLDFARD; MAIA.1995, p. 852).

Mas, conforme Santos (1989), não podemos compreender qualquer de suas partes (as diferentes disciplinas científicas) sem termos alguma compreensão de como ‘trabalha’ o seu todo e vice-versa. Não podemos compreender a totalidade sem termos alguma compreensão de como ‘trabalham’ as suas partes.

Ciências Sociais Aplicadas

As Ciências Sociais Aplicadas é o ramo da ciência que busca aplicar os conhecimentos para a solução de problemas práticos, em meio à sociedade. Contribuem para o desenvolvimento histórico e social de um povo. As “[...] ciências sociais constituíram-se no século XIX segundo os modelos de racionalidade das ciências naturais clássicas [...]”. (SANTOS, 1999, p. 42).

A ciência constitui hoje em dia uma força motriz decisiva do desenvolvimento social. Os seus resultados são aplicados com uma rapidez há anos atrás ainda desconhecida e revolucionam a estrutura das economias nacionais. Transformam as condições e o modo de viver das pessoas e determinam em grande medida o seu porvir. A revolução técnico-científica que avança impetuosamente conduzirá a um acréscimo ainda não calculável de força produtiva para a humanidade [...]. (RDA, 1984, p. 7).

A ciência aplicada, segundo Chauí (1995, p. 260), “são todas as ciências que conduzem à invenção de tecnologia para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades, como por exemplo, Direito, Engenharia, Medicina, Arquitetura, Informática, etc.
Segundo Freire-Maia (1997, p. 24-25), antigamente, existia a ciência pura, que não tinha aplicação, e ciência aplicada, que diretamente se voltava para a solução de problemas. Mas, hoje, não há dois tipos de ciência. Existe a ciência e aplicações da ciência. “O que há é a pesquisa básica (que pode gerar aplicações) e a pesquisa tecnológica (que diretamente visa a essas aplicações).”
Moles (1971, p. 24) corrobora quando diz que “não é possível separar no mundo moderno ciência aplicada técnica e ciência pura, pois uma reage demasiadamente estritamente sobre a outra [...].” No sentido complexo, não há ciência pura, pois todas envolvem cultura, história, política, ética.
De acordo Maria, Goldfard, Maia (1995), a diferença das ciências exatas para as sociais está na diferença dos objetos e dos métodos: o pesquisador, em Ciências Sociais Aplicadas, está envolvido com seu objeto de estudo e esse objeto, são, em regra, dependentes do contexto social da época.
Conforme Freire-Maia (1997, p. 139), as ciências são aplicadas em várias áreas, apesar de serem limitas pelos interesses dominantes:

As aplicações da ciência ocupam um amplo leque de possibilidades. Basta ver, mesmo superficialmente, a vida moderna - energia elétrica e atômica, telefone, telégrafo, rádio, televisão, VHS, computadores, aviões, automóveis, trens, máquinas de escrever, vacinas, soros, sulfas, antibióticos, etc. – para se aperceber da extensão das possibilidades tecnológicas da ciência. A energia elétrica e a energia atômica abriram áreas dantes insuspeitadas, em que interesses estatais e empresariais dominam as iniciativas individuais dos pesquisadores.

Ao longo da história, várias ciências surgiram, mas para funcionarem de forma eficaz, todas necessitam, em menor ou maio grau, da ciência aplicada. Isso ficou mais evidente na Revolução Industrial. Como coordenar máquinas, produção e ainda pessoas?

A evolução da ciência que se efetuara durante o século dezenove de maneira senão distante, ao menos ‘desligada’ da aplicação industrial, sofreu importantíssima influência: a ciência aplicada, melhor ainda, a técnica que parte para a conquista do mundo material a fim de sujeitá-lo ao homem, aplica a um objeto os mesmos métodos de princípios e não se separa portanto na sua démarche da ciência pura [...]. (MOLES, 1971, p. 21).

Para Santos (1989), nesta fase, perde sentido a distinção entre ciência pura e aplicada, por um lado, e entre ciência e tecnologia, por outro. A tecnologia cientifica-se a ponto do conhecimento científico se converter em projeto tecnológico e, aos poucos, a imaginação dos cientistas é substituída pela inteligência artificial dos computadores. A ciência, ao mesmo tempo em que produz tecnologia, será produzida por ela.
Santos (1989) conclui dizendo que essa tecnologia científica pode se tornar uma arma poderosa a serviço dos interesses da classe dominante, visto que envolve muitos investimentos em seu desenvolvimento teórico. A luta pelo critério de seleção e pela sua aplicação é uma luta política em que a comunidade científica joga a sua sobrevivência. É necessário preservar, na ciência, a lealdade aos objetivos sociais.
Morin (2003) diz que, do ponto de vista epistemológico, é impossível isolar a noção de tecnologia, porque existe uma relação que vai da ciência à técnica, da técnica à indústria, da indústria à sociedade, da sociedade à ciência etc. A técnica aparece como um momento nesse circuito, em que a ciência produz a técnica, que produz a indústria, que produz a sociedade industrial, e a indústria retroage sobre a técnica e a orienta, e a técnica sobre a ciência orientando-a também. A relação entre ciência e técnica passou, então, a ser dominante e indissolúvel.
Chauí (1995) contribui, dizendo que uma das grandes diferenças da ciência antiga para a atualidade está na valorização da técnica, pois o mundo capitalista conhece a natureza para apropriar-se dela e diz que é mais correto falar em tecnologia que técnica.
O estudo das Ciências Sociais Aplicadas envolve, portanto, Tecnologia, Robótica, Informática, o Direito, Engenharia, Arquitetura, Farmacologia, Medicina, Política, Psicologia, Contabilidade, Economia, Administração, etc.

Administração como ciência

A Administração está inserida no contexto das Ciências Sociais Aplicadas, que “são todas as ciências que conduzem à invenção de tecnologia para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades [...]”. (CHAUÍ, 1995, p. 260). Através de métodos e funções bem elaborados, a Administração estuda os empreendimentos humanos, com o objetivo de alcançar um resultado eficaz.
O marxismo contribuiu de forma significativa no estudo das instituições sociais e históricas, condições do fator humano. “Levou a compreender que os fatos humanos mais originários ou primários são as relações dos homens com a natureza na luta pela sobrevivência e que tais relações são as de trabalho, dando origem às primeiras instituições sociais [...]”. (CHAUÍ, 1995, p. 275).
Mas, ao passo que o mundo se desenvolve, as relações entre pessoas e coisas, precisam ser, cada vez mais, estruturadas. Segundo Robert (apud STAL; SOUZA NETO, 1987, p. 84), “a administração das atividades científicas e tecnológicas provêm da necessidade de sua organização, planejamento, institucionalização, orçamentalização e avaliação”.
Frederick W. Taylor foi o precursor das teorias da Administração Científica. Ele tinha o objetivo de elevar o nível de produtividade, diminuindo o tempo e o custo de produção. Ele observou que os sistemas da época eram falhos e que só conseguiria mudar o sistema produtivo das indústrias, se todos os métodos fossem padronizados, analisados e testados cientificamente.

A administração, tal como a conhecemos atualmente, é o resultado teórico e integrado da contribuição cumulativa de numerosos precursores - filósofos, religiosos, militares, engenheiros, economistas, estadistas e empresários- que, no decorrer dos tempos e cada qual em seu campo de atividade, foram divulgando as suas obras e teorias. Por essa razão, as técnicas de administrar passaram por várias fases até que, no início do século XX, os processos administrativos foram sistematizados, transformando a administração em uma ciência [...]. (BARTMANN; Ruth; Krauser; 2006, p. 7).

O papel do administrador é executado no palco das organizações. “A organização não é instituição, mas uma atividade regeneradora permanente em todos os níveis, e que se baseia na computação, na elaboração das estratégias, na comunicação, no diálogo.” (MORIN, 2003, p. 275).
É amplo, o objeto de estudo da Administração. Mas ela não assume sozinha esses estudos. Conforme afirma Chauí (1995), um mesmo fenômeno pode ser objeto de várias ciências. Se tomarmos como exemplo o homem, veremos que ele é um objeto presente em praticamente todas as ciências. O que vai mudar são os métodos utilizados neste estudo.
Para Drucker (1975), o setor que mais cresce dentro de qualquer organização moderna é o dos administradores, pois eles são diretamente responsáveis pelos resultados obtidos na empresa. Afirma, ainda, que um administrador tem dois deveres específicos: o primeiro é a criação de um todo que seja maior do que a soma de suas partes e o segundo, uma entidade que produza mais do que o total dos recursos que são colocados nela.
A Administração possui uma abordagem sistêmica, que busca conjugar conceitos de diversas ciências a respeito de determinado objeto de estudo.

A utilização de conceitos de diversas áreas para os estudos das organizações é uma prática aparentemente comum e responsável por avanços importantes na administração e no estudo das organizações. A natureza multidisciplinar desses avanços reforça as possibilidades de migração de conceito. (GIOVANNINI, 2002, p. 66).

Mesmo com vantagens tão visíveis, há grandes críticas aos novos campos da ciência. Uma objeção às Ciências Sociais está em dizer que os seres humanos e a sociedade não podem ser observados cientificamente, pois, ao contrário do homem, a ciência envolve objetividade, clareza, complexidade, análise. “[...] Como transformá-lo em objetividade, sem destruir sua principal característica, a subjetividade?”. (CHAUÍ, 1995, p. 272).
Chalmers (1993, p.18) se refere à “visão equivocada de ciência”:

A alta estima pela ciência não está restrita à vida cotidiana e à mídia popular. É evidente no mundo escolar e acadêmico e em todas as partes da indústria do conhecimento. Muitas áreas de estudo são descritas como ciência por seus defensores, presumivelmente no esforço para demonstrar que os métodos usados são firmemente embasados e tão potencialmente frutíferos quanto os de uma ciência tradicional como a física. Ciência política e ciências sociais são agora lugares comuns. Os marxistas tendem a insistir que o materialismo histórico é uma ciência. De acréscimo, Ciência Bibliotecária, Ciência Administrativa, Ciência do Discurso [...] são hoje ou estiveram sendo recentemente ensinadas em colégios ou universidades americanas [...]. (CHALMERS, 1993, p. 18).

Segundo Chalmers (1993), os auto-intitulados cientistas, acreditam que ciência é apenas utilizar os métodos empíricos da física para coletar dados por meio de cuidadosas observações e experimentos e da subseqüente derivação de leis e teorias, a partir desses dados, por algum tipo de procedimento lógico.
Apesar das críticas, está visível que a ciência da Administração envolve teoria e prática. Ela estuda os melhores métodos a serem implementados em cada caso específico. “A ciência não pode ser feita apenas com a metodologia, mas não pode passar sem ela [...]”. (TOMANIK, 2004, p. 21). Ela preza pela eficiência (métodos) e também pela eficácia (objetivos) necessárias ao melhor desempenho de todo um sistema organizacional.


REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, M. H. Pires. O conhecimento científico. In: ______. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.

BARTMANN, Mercilda; Túlio, Ruth; Krauser, Lucia Toyoshima; Administração na saúde e na enfermagem. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2006.

BOCK, A. M. B. et al., Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.

CHALMERS, Alan F., O que é ciência afinal? Trad. Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense, 1993.

CHAUÍ, Marilena. A atitude científica. In: ______. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

______. O ideal científico e a razão instrumental. In: ______. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

______. As ciências humanas. In: ______. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

______. A ciência na história. In: ______. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que ele existe. Trad. Giorgio Cappelli. São Paulo: Gente, 2007.

DRUCKER, Peter Ferdinand. Administração: tarefas, responsabilidades, práticas: trad. de Carlos Afonso Malferrani. São Paulo: Pioneira, 1975.

FREIRE-MAIA, Newton. A ciência e o meio social. In: ______. A ciência por dentro. Petrópolis: Vozes, 1991.

______. A ciência por dentro, 4º Ed. Petrópolis: vozes, 1997.

GIOVANNINI, Fabrizio. A complexidade e o estudo das organizações:
explorando possibilidades. Revista de Administração. São Paulo v.37, nº 3, 2002

GRANGER, Gilles-Gaston. A ciência e as ciências: trad. de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: UNESP, 1994.

MARIA, ana; GOLDFARD, Afonso; MAIA, Carlos A. História da ciência: o mapa do conhecimento. Rio de Janeiro: Expressão e cultura/ São Paulo EDUSP, 1995.

MOLES, Abraham Antoine. A criação científica: trad. Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: USP, 1971.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência: trad. de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. 7 º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

PETRY, André. A fé no terceiro milênio. Veja. São Paulo, Ed. 2040, ano 40, nº 51, 26 de dezembro de 2007.

RDA. Ciência em benefício da sociedade. Berlim: Zeit im Bild, 1984.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

______. Um discurso sobre as ciências. 11º ed. Porto: Histórias e Idéias, 1999.

TOMANIK, Eduardo Augusto. Algumas noções preliminares sobre a ciência: por que pesquisar? In: ______. O olhar no espelho: “conversas” sobre a pesquisa em Ciências Sociais. 2. ed. rev. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2004.



¹Trabalho realizado sob a orientação do professor Clédson Miranda para aproveitamento da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica.
²Alunos do curso de bacharelado em Administração de Empresas, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. E-MAIL: admmetodologia@hotmail.com.





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